domingo, 25 de agosto de 2013

From Lisbon to Budapest

"Para aprender, viajar e ler" - Avó da Sílvia
É difícil resumir. Quando me perguntam: "como foi?" ou "como está a correr?" quase certo que nenhuma palavra me sairá da boca. Não pode  ser assim, de chofre. Mas sim quando a lembrança bate à porta, chamada por um cheiro, uma cor, um ruído.

Ainda assim, e antes que venham mais perguntas, vou tentar:

Basicamente, fomos ali a Portugal buscar o carro. Para não desperdiçar a oportunidade, hospedámos nos dois assentos restantes mais duas companheiras de viagem. E de resto passou-se da seguinte forma:

Portugal
Vida de imigrante passa a ser passar dois dias entre a loja do cidadão, cartório, visitas de família e beijinhos dados a correr, um jantar com todos os amigos, e toca a zarpar, comer uma bifana no Conga, salmonetes no Algarve, levar uma compota na mala, encher o carro de tralha, tendas e gente, e zarpar esperando que dos 1653 assuntos a tratar não nos tenhamos esquecido de nenhum.

Espanha
De Espanha ficam quatro memórias: um almoço soalheiro e simples entre gentes locais e grandes profissionais de cartadas; Burgos (uma cidade povoada por idosos felizes em belos trajes domingueiros); uma mudança de paisagem na entrada para o País Basco, com altos pinheiros, vales e casas neles enterradas; e a surpresa de ter aterrado em San Sebastian em plenas festas da cidade, desmistificando uma ideia pré concebida de cidade pacífica, elegante e harmoniosa.
Fica ainda o espanto de nos apercebermos da diferença que um dia faz. No mesmo dia em que saímos de Portugal, desistindo de pernoitar em San Sebastian, fomos dormir a França.

França
Eu não sabia que França era um país pintado em tons de areia e azul pastel. Que as suas águas eram quentes, com ondas espumosas. Que há certos lugares, e certos recantos, em que nos imaginamos na arábia: um cão (também cor de areia) atado a uma porta azul, uma senhora de túnica e lenço, aparecendo entre as vielas, um silêncio só quebrado de passos. Eu não sabia que as aldeias e as cidades nasciam com elegância e harmonia entre as vinhas. E ficam nomes de lugares imaculados que se visitam como postais: Biarritz, Bourdeaux, Saint-Émilion, Arles, Carcassone, Cannes, Mónaco (este não conta mas ficava de caminho).
Em Saint emilion, aninhado num arco de pedra de uma ruína conventual, fitando a vinha, com a sua túnica laranja, vimos um Budista em meditação.

Itália
Itália é turístico. Ponto. Mas tem todo o mérito para o ser. De Itália, acordar em Peschiera del Garda com o Lago di Garda, repleto de veleiros, entrando pelas janelas. As cores? O vermelho das sardinheiras, azul profundo e castanho. E a imagem surrealista da ilha de Veneza (que é em forma de peixe) e suas ilhas vizinhas, blocos de mármore saindo da água, sem terra circundante. Somente igrejas e casas com passeios de mar.
E em Trieste, um fogo de artifício para despedida.

Eslovénia
Se existe um lugar que nos faz sorrir, e que em cinco minutos nos conquista o coração, encontrámo-lo aqui. A Eslovénia tem dois milhões de habitantes, Ljubljana duzentos mil. Mas tem simplicidade, tem design, tem arquitectura, tem pontes, tem mercados, tem cor, tem pessoas bonitas. Ljubljana dá as boas vindas com um sorriso e um abraço a todos os que a visitam. E as suas pessoas dão, sem esperarem nada em troca: um pequeno almoço servido bem depois da hora ter terminado, no hostel, três fatias de carne fumada no talhante "para provarmos" um copo de vinho local, internet gratuita em toda a cidade, dois dedos de conversa, informação, um pouco de atenção. Ficámos hospedados no Hostel Trésor, que recomendo a qualquer futuro viajante. À saída passa por nós outro hóspede Português: "Ora bom dia!", "Boa viagem, respondemos", "Boa viagem, é uma cidade muito bonita!"
E foi assim que, nas 4 horas que passámos (acordados) em Ljubljana, a coloquei no topo da lista das cidades onde desejo viver.

Croácia
A Croácia é uma moeda de duas faces. A face de cima tem paisagens estonteantes, águas cristalinas, vilas pitorescas. A face debaixo tem praias de pedra, cicatrizes de guerra nos edifícios, e um je ne sais quoi de Bairrada - sim, de Bairrada, com os seus restaurantes de Leitão e hospedarias a salpicarem a berma das estradas.
Material obrigatório a levar para a Croácia: óculos de mergulho e barbatanas, sapatos de borracha para ir à água, colchões insufláveis para a praia, tenda (é o paraíso dos campistas), e um colchão de esponja para servir de toalha (pois irão passar as ferias a deitar-se sobre calhaus).

Sérvia
Sérvia visitada a correr, Belgrado: uma cidade de dualidades, pessoas bonitas, casas feias, castelos bonitos, telhados decadentes, fachadas brancas, pátios negros, pessoas simpáticas, pessoas tristes.

Roménia
Da Roménia tenho um carinho especial e a vontade de a desmistificar, porque sei da sua belíssima arquitetura, da sua herança cultural, gentes simpáticas, e uma nova atração por tudo o que é sofisticado. Sendo assim, fizémos uma breve paragem em Timisoara para jantar num requintado restaurante italiano e visitar a sua magnífica praça onde, em 1989, ocorreu uma manifestação de estudantes contra Nicolae Ceauşescu, com um trágico final.

Hungria
E chegámos à Hungria, com 5074 km feitos e 10 dias de viagem.

domingo, 4 de agosto de 2013

Pânico no avião



Este é um post de ódio.

A raiva que tenho em mim neste momento tem 5 segundos para se libertar. Espero que as palavras ajudem senão vou ter que começar a destruir coisas no aeroporto de Eindhoven. Fui assaltada. Basicamente, apanhei uma low cost Budapeste – Eindhoven.

Até fiquei satisfeita de o terminal ser o mesmo que os voos regulares, e de poder dar uma boa volta pelas variadas lojas de marcas internacionais de forma a matar as 2h de espera que me aguardavam, e distrair da directa que tive de fazer por causa deste voo matinal. Para acrescentar, uma noitada seguida de um casamento húngaro que começou às 15 e acabou às 2h do mesmo dia, muitos copos de vinho, e uma temperatura de 37ºC que se insistia em manter, dia e noite.

Como devem calcular já não cheguei muito animada aos portões. Corri o bonito aeroporto até ao fim, procurando a porta A17. No final existia uma seta indicando A15-A19. Apontava a umas escadas muito mal amanhadas que davam para a rua. Quase dei um trambolhão numa laje levantada. Devia ser um aviso. Depois de descer a escada atravessa-se o aeroporto a pé num caminho cercado por cancelas que termina numa espécie de barracão. Eu penso que as low costs fazem de propósito para a malta se sentir como uma vara de porcos a caminho do abate. Quando entro no barracação apercebo-e, por milésimos de segundo, do seu interior. Mais algumas grades e completa ausência de cadeiras.

“Heloooooooooooooooooooooooo” – May I see your boarding card?

Sou imediadamente atropelada por um rapaz com um sorriso demasiado simpático:

“May I see your bag? Can you put t over there?” E aponta-me para o medidor de malas da wizzar.

Eventualmente não detentora de toda a minha capacidade mental de momento, poiso desinteressada a mala do medidor. A mala não entra.

“See, here at wizzar we only allow small bags, yours is an oversized bag, you shoud have booked it.”

“I don’t understand, I naver had problems with my bag” – Foi apenas o que me ocorreu.

Entretanto o rapaz aponta-me para um cartaz que diz – tipos de bagagem permitida com uma mochila ou um trolley igual ao meu – por baixo da imagem do trolley, a letras microscópicas diz – pay fee. Publicidade enganosa no seu melhor.

“Now you have to pay a fee: 12.000 HUF or 40 euros.”

“I don’t have that money!”

“We accept credit cards.”

40 euros para uma pessoa que está desempregada é muito dinheiro. É o sustento para uma semana, é a excentricidade de poder comprar o bilhete para um festival de verão (o que evitei fazer para não ter a despesa). É uma viagem de ida e volta para cerca de 10 países a partir de Budapeste. Aliás era o preço da minha própria viagem.

Para alem de ter estoirado o dinheiro apercebo-me logo de seguida que estou a fazer um voo de escala e que em Eindhoven a situação se iria provavelmente repetir. Esperariam-me então duas angustiantes horas no avião a pensar em que ordem iria vestir toda a roupa que tenho na mala e de seguida que items conseguiria enfiar numa mochila e quais teria de pôr no caixote do lixo. Finalmente, fui-me despedindo mentalmente do meu trolley favorito, companheiro de tantas viagens.

Ao aterrar em Eindhoven corri para o medidor de bagagem para começar a milha missão de encolher a mala. Peguei na mala, coloquei-a no medidor.

A mala entrou.

A mala cabia.

O único erro foi que, no aeroporto de Budapeste, devia ter colocado a mala na ordem inversa, rodas para cima, pega para baixo. Mas isso não me ocorreu naquele momento.



Por esta altura começo a desconfiar que quem merecia o ódio era eu.

Acho que me vou conseguir controlar aqui na Holanda e fazer um calmo regresso a Portugal.

Que este post sirva pelo menos para vos alertar para as manhas das low costs. Elas estão à espera do vosso mínimo deslize, da mais pequena distração, para vos cobrar uma irremediável taxa extra sobre mil e um exóticos pretextos.



Cuidado!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

As praias de Budapeste


Ontem dediquei o dia a algumas das "praias" de Budapeste.

A primeira parte foi dedicada a explorar um dos extremos da cidade, a zona Romái. A lá me dirigi, com uma nova amiga, e foi com prazer que descobrimos um novo lugar de eleição. O Fellini Romái Kulturbistro é um sitio mágico e intimista. Um bom segredo de Budapeste, para voltar muitas vezes. A tarde passa-se numa das cadeiras de lona a ver o atribulado tráfego de caiaques, uma das actividades mais praticadas da cidade. Alguns metros ao lado podemos alugar os mesmos por menos de 10 euros por dia: uma promessa de um dia bem passado.




Ao final da tarde, exactamente no outro extremo da cidade, mas também no lado de Buda (o mais verde), visitei um outro parque da cidade. No final existe uma amostra de praia com areia, um pouco abandonada. Ainda assim esta é uma zona mais moderna e cuidada, uma espécie de parque das nações. Ao longo da margem, várias bicicletas encostadas e grupos de amigos partilhando garrafas de vinho.


Ao som de: Cake - Pentagram

Aos lugares e às pessoas perdidas

algures no Alentejo Litoral

O que faz alguém desaparecer da nossa vida? Certamente não será a indiferença, desprezo ou inveja, ainda assim teríamos uma presença suportável, fácil de ignorar.

Qual será a causa do afastamento? A raiva, a desilusão... o amor? Causa de intolerância de qualquer contacto?

Pela primeira vez, entre tantas experiências internacionais, experimento um novo sentimento. Uma saudade irremediável, uma saudade irreparável, sufocante, sem esperança.

A saudade dos lugares e das pessoas perdidas.

A saudade de um lugar onde nunca se poderá voltar, a saudade de uma pessoa com quem nunca se poderá falar.

É uma saudade que esbarra contra um muro de betão.

Julgava que a distância traria um novo começo e o novo começo encontraria o futuro.
Mas a distância traz saudade e a saudade encontra a impossibilidade.


E a lição que aprendo é - não fujas - faz as pazes: contigo, com os lugares, com as pessoas.



Ao som de: Bonita ~ Morelenbaum/Sakamoto - Casa