segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
O rio
Morar aqui
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
últimos dias. "Último? Não digas último!". Mas como não se todos os dias são últimos, se todos os minutos são últimos?
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Intermitências
A descoberta é saber que gosto das intermitências. A vida cheia de capítulos e pontos e vírgulas.
Ir e voltar, partir e regressar.
Fala-se em emigrar, pois eu falo em viagens, fala-se em decisões pois eu falo em experiências, nada é eterno, é preciso partir e dormir bem longe para saber o tamanho da nossa cama. Foi preciso deixar para construir pontes. Foi o som do alaúde que me mostrou a amarantina, foram os altos pés direitos que me pediram baixas janelas. Nunca entendi como a minha terra era tão rasa, foi preciso ver o sol deixar de brilhar em Bruxelas e a noite eterna dos nórdicos para me lembrar como em lado nenhum o sol brilha como ali, como um manto de luz e brancos muros. Foi preciso provar peixe em muitas praças para descobrir que nada existe como o mercado ao lado da casa dos meus avós. Sou capaz de nomear mais de 15 variedades de bivalves, mais de 30 espécies de peixe, mais de 10 tipos de crustáceos. Pensava que todos sabiam. Foi assim que todas as coisas vulgares se tornaram únicas e preciosas. Foi assim que todas as coisas garantidas se tornaram frágeis. As manhãs a apanhar caranguejos com os meus pais. Os meus avós acenando à janela. O sabor das laranjas colhidas ao sul e dos figos roubados aos cactos.
A descoberta é saber que quero as intermitências. É na ausência que a verdade se revela. Una e singela, uma imagem.
Uma imagem repetida todas as noites:
A minha: uma casa clara, um pinheiro, o cheiro do lodo.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
A sério
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
Um dia antigo em que me zanguei
As pessoas acabam os dias como quem pisa as formigas, sem as notar no passeio. Hoje talvez matei dez formigas, esquecíveis de sua existência.
Hoje o meu dia acabou cedo, quando me zanguei com o mundo. Uma revolta que nasce de entender que é um privilégio ter um sorriso, não um direito, é um privilégio ser ajudada quando mais preciso, e não ser tomada conta.
Sou mendiga de sorrisos mas mais mendigos aqueles por quem passo todos os dias ignorando. E olho para mim agora e penso quem é esse meu direito de me zangar, se eu mesma tantas vezes poderia ter feito o que não fiz. Viver aqui é entender (e ver) sempre alguém que precisa de ajuda. E quem deveria ajudar. Eu vejo os mendigos debaixo das portas e ponho-os em meus ombros para os voltar a pousar. Apenas lhes senti o peso, apenas isso, agora largar e partir. Decepciono-me comigo por nada poder mais como nada faço sequer. E os sorrisos que dou para que chegam? Aqui sinto que devo andar sempre pedindo desculpa. Desculpa por entrar e falar alto. Desculpa por falar ao telefone com amigo. Desculpa por comprar e quando compro desculpa por pagar o dobro do que sei que isso custa. Este é o prego final. É o andar na rua a ver se se dá e nos tirarem o resto, é o dar esmola e nos roubarem a carteira. O dia chega em que a luz não chega cá abaixo. E a minha alma fica mais perto dos que se sentam nas ombreiras. É o desistir de mudar o mundo, é o desistir de espalhar abraços e eu já nem sei se acordei ou se fechei os olhos. Será que vivi dormindo até agora, até hoje ver a realidade crua sem as cores dos meus pincéis.
E chega o momento que a luz se apaga e eu penso se consigo mais um dia. E eu pego em meus trapos e recomeço sem saber se me matam um bocadinho, se estou a encher uma arca de forças para amanhã. De carácter! Dizem eles, ou de realidade! Eu ainda não sei até quando mudarei o mundo. Cada grito mata 20 sorrisos por favor. Pega nos teus olhos e faz coisas bonitas. Eu aqui vejo mãos largas que tanto dão e umas que não se enchem. E as minhas tão cheias que sabem partilhar. Mas hoje vi as mãos mais pequenas de todas, as tiranas, as que entram nos bolsos e que roubam.
E chega o momento em que escolhemos tentar todos os dias todos os dias mudar o mundo com abraços de novo. Eu fico feliz assim que os tenho, eu fico grata sempre que recebo. Eu fico surpreendida sempre que me conquistam. Gostaria do dia em que seria normal não me surpreender. Ser nosso direito. Eu talvez não possa mais que estas palavras. Mas, a quem as leu, dêem sorrisos por favor. Por todos aqueles que se acabaram hoje por aqui.
domingo, 23 de agosto de 2015
No trilho das cascatas
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Despertar
Ao som de: King Creosote - One floor down
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Chuva
A angústia que sempre morará comigo
A angústia maravilhosa.
Desenho um mundo por cima deste
Como as nuvens que nos sobrevoam
Sobre mim flutua essa vida
Repleta de sonhos impossíveis
Olho pela janela e a chuva
Que molha as casas molha a minha pele
Nessa alta onde habito. Sem ela
A cá de baixo seria o deserto
Sem a sombra e a chuva das encantadas
A minha jornada seria sem água.
Assim, quando estou cansada olho para cima
E imagino as formas do meu céu desenhado
O meu céu apaixonado e vejo
Eu vejo, eu vejo, eu vejo,
Inexplicavelmente vejo e sinto amor
Pelo belo
O impossível
O distorcido o surreal
Tenho uma tangerina na secretária, poderia passar o dia a amá-la.
A sua casca cheirosa, a folha verde,
Ontem fui comprar cerejas, eram negras como a noite.
No caminho vi a fonte e molhei os pés e os reflexos
levaram-me em viagens para o mar
Depois tentei recordar todos os olhares
e lá em cima as minhas nuvens crescendo
crescendo
crescendo
as emoções evaporadas.
E depois choveu.
Mansamente
Cá em baixo.
Os meus campos verdes.
Vão viver mais amanhã.
sexta-feira, 3 de julho de 2015
Portugal
Conversa
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Pazes
"Quando nos zangamos com as pessoas
É preciso fazer as pazes com as paisagens."
Casa fica antes de abrir os olhos de madrugada.
É o sol que a pálpebra fechada deixa trespassar.
É o primeiro instinto que nos diz onde estamos.
Casa é pisar o chão descalço.
É entardecer sem promessas
Porque nada mais faz falta.
A casa chama, quando se está longe
É a lágrima que cai a garganta apertada
Casa é um abraço dado pelo sol
Casa é areia quente e giestas
Casa é voltar sempre voltar
Casa é uma e une sempre
A primeira de todas as casas
A branca casa
A luz da manhã que sabemos de cor
Os sons mudos da paisagem
A que nos fala baixinho ao ouvido
E murmura “está tudo bem”
Um mantra de repetições que oramos em segredo
A casa é a pele que se lembra do toque
Da madeira, dos móveis, da parede.
Debaixo dela, no alvo coração
Dentro das artérias
Chamará para sempre.
Casa
Casa
Casa.
sábado, 23 de maio de 2015
Salento
- É bom perguntar, toda a gente tem um amigo que faz qualquer coisa que precisas, ou que está disposta a ajudar, ou sabe onde é que se come bem. Os mapas não são tudo.
Ao som de: Officina Zoe Pizzicarealla
Junho
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Fotografias
domingo, 3 de maio de 2015
Rovinj
sábado, 28 de março de 2015
Barcelona
quinta-feira, 19 de março de 2015
Late blues
De volta a casa
Incondicional
Não te esqueças. Aqueço-te os pés
E deito-me à lareira meu amor.
Eu deito-me à lareira eu faço a cama
Eu deixo-me à espera à espera que venhas.
Eu deixo-me dormir aos teus pés meu amor
Não te esqueças de me aquecer
Todos os dias meu amor
Eu na cama meu amor
Eu aqui eu fechando
Eu ficando eu amando
Todos os dias, não te esqueças.
terça-feira, 10 de março de 2015
É de manhã
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Chapelaria
Das não ditas
Eu pertenço, embriagada.
Porque é no silêncio,
contido de formas caligráficas
Que moram os dragões de escamas douradas.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Os cântaros não têm mãos
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
Telhados
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Debaixo
Obrigada
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
Eu já não sei se serei quem de antes era
"Formoso Tejo meu, quão diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.
A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente.
Já que somos no mal participantes,
Sejamo-lo no bem. Oh! Quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!
Mas lá virá a fresca Primavera:
Tu tornarás a ser quem eras de antes,
Eu já não sei se serei quem de antes era."
de Francisco Rodrigues Lobo, que nele se afogou, a 4 de Novembro de 1621