quinta-feira, 2 de março de 2017

Pastel de Nata

E chega aquele momento em que vejo o meu país reduzido a um pastel de nata. Umas palavras em sotaque brasileiro e um pastel de nata. É isto que recebo de volta quando digo que sou daí "como vai você", "phashtel dê natha". E não sei se devo ficar satisfeita ou frustrada. Porque se reconhece o país, porque ouviram falar, e quando falo de dança perguntam-me se se dança o fado e eu dentro de mim sem ter quem entenda que Portugal é muito mais, Portugal é um mosaico de história, é ponto de encontro, é África, é Ásia, é o mundo inteiro, que Lisboa é tropical, cheia de jacarandás e tâmaras, e que são tantos os doces conventuais como as espécies de pássaros, que as coisas variam conforme a região, que o fado só é fado há pouco tempo, mas temos as gaitas de foles, as gaitas de beiços e as violas. Mas ninguém sabe, e Portugal encapsula-se num pastel de nata, e eu irrito-me contra o simples doce que vezes sem conta me é questionado, "you have that cake, how do you call it?". 

Eu irrito-me mas é preciso aceitar que esta é a nossa caravela, um grande pastel de nata que vai daqui até à China.

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